terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Vingança




Gosto de cinema oriental. Sei bem que é um gosto peculiar e incapaz de agradar a todos, mas justiça seja feita. Eles por lá têm um sentido de arte completamente deslumbrante. A criatividade que os caracteriza proporcionou-nos com algumas obra-primas nos últimos anos. Uma delas é, indiscutivelmente, Oldboy.

Realizado por Chan-wook Park e datado de 2003, Oldboy é parte de uma trilogia dedicada à vingança. Não é uma trilogia linear, em que as histórias dão seguimento umas às outras, mas três diferentes abordagens sobre esta temática. Confesso que não vi ainda os outros dois filmes do senhor Park (tratarei disso a seu tempo), mas Oldboy já bastou para encher o olho por muito tempo.

O filme conta-nos a história de Oh Dae-su. No dia do aniversário da sua filha, Dae-su embebeda-se e acaba detido e levado para a esquadra. O seu melhor amigo acaba por libertá-lo. Dae-su, acompanhado do presente que com tanta estima comprou para a sua filha, decide fazer um telefonema da cabine mais próxima para lhe dar os parabéns. Pouco depois, desaparece sem deixar rasto...

De facto, o nosso personagem principal foi raptado e aprisionado num quarto. O cativeiro durou 15 anos. Até que um dia, Dae-su é libertado e deixado algures com roupas caras, dinheiro e um telemóvel. Sedento de vingança, o seu objectivo passa a ser encontrar o homem que lhe fez isto e descobrir o porquê. E assim começa uma viagem alucinada, cheia de reticências e linhas em branco, completadas a espaços com as descobertas mais incríveis. O nosso "herói" encontra pelo caminho uma aliada, Mi-do, por quem se apaixona. E tarde se aperceberá que esta busca pela vingança acabará no fundo por desvendar os mais obscuros segredos da sua vida, passada e presente.

A história, como podem ver, é magnífica. Uma história cheia de negrume e capaz de nos revoltar as entranhas. O filme está primorosamente construído. Cada fase é aproveitada inteligentemente, sem que o autor nos faça sentir que estamos a perder tempo com o que não é importante. A narrativa vai dando as orientações de que precisamos como complemento e o personagem principal prende-nos desde o princípio, deixando-nos a torcer pelo completar da sua vingança. Não há cá linearidades e desenrolares óbvios, com as questões a serem (inteligentemente) respondidas perto do final. Isto ajuda a manter todo o suspense e a deixar-nos com água na boca até ao fim.

Depois temos as cenas marcantes... não querendo obviamente spoilar os nossos leitores, digo-vos apenas que há momentos fantásticos neste filme. Desde aqueles que envolvem um polvo vivo, a formigas gigantes. Chan-wook Park não ignorou igualmente o lado de humor negro com que apimenta, esporádicamente, a película. Momentos-chave em determinadas cenas que merecem o aplauso pela forma como estão tão bem conseguidos. E finalmente, o desfecho do filme. Aquilo que pode fazer a diferença entre um filme banal e um filmaço que perdure. Aqui, o final é delicioso em toda a sua perversidade demente.

Contas feitas, Oldboy é um daqueles filmes que não devem mesmo ignorar. Já ganhou carradas de prémios, e esta publicidade é decerto desnecessária. Mas faltava-lhe o tributo e o reconhecimento tão valiosos aqui do Ninho. Vejam, mesmo que não sejam por norma adeptos do cinema asiático, e redescubram como ainda há grandes mestres no cinema.

Recomendado por 9 em 10 taralhões.

2 comentários:

Anónimo disse...

Finalmente. O ninho demorou a acordar, mas fê-lo para algo fabuloso. 10 em 10 IMHO.

Anónimo disse...

Com a excitação da review pelo estimado Ninho, esqueci-me de referir dois aspectos importantes.

1º - A história é baseada numa manga, com o mesmo nome. Não invalidando a forma genial como o filme foi construído, a manga consegue ergue-se numa patamar acima, mais uma vez. IMO.

2º - Hollywood, como se sabe, encontra-se sempre sedenta de história (a imaginação parece ter estagnado) vai fazr um remake deste filme. Especula-se que seja realizado pelo Steven Spielberg e como actor principal o Will Smith. Se tal se verificar, por favor 15 anos para cada um, no mesmo local onde o Sr. Oh Dae-su esteve hospedado.