quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Um dia na vida de...

Lentamente, abro os olhos. Repouso na minha cama de dossel dourada com os seus mantos de um vermelho rico, e ao meu lado encontram-se duas jovens das quais não me recordo o nome. Não interessa, amanhã provavelmente serão outras duas. Levanto-me e caminho, tal como vim ao mundo, para as portadas da minha varanda. Ao abri-las, o ar fresco da manhã enche-me de forças para mais um dia.

Estou preparado.

Ao pequeno almoço já estou impecavelmente vestido no meu Armani. Sentado à cabeceira, servem-me iguarias numa mesa longa e vazia, mas que demonstra a minha posição social. As raparigas que acordaram comigo passam agora por mim na direcção do quarto de banho, ainda meio desnudadas, todas elas risinhos.

O meu semblante mantém-se inalterado. A minha mente planeia já as minhas decisões para o resto do dia. Sem falhas.

Saio para trabalhar. O chauffer leva-me no meu Mercedes até ao primeiro local de reunião. O restaurante ainda fechado servirá de palco às primeiras negociações do dia. Até à hora de almoço discutimos o problema que está em cima de mesa. Mantenho-me inflexível na minha posição, e quando os ânimos se exaltam e um deles se ergue do seu assento, rapidamente me aproximo dele e piso-o lateralmente no joelho. O som de algo a quebrar põe termo as negociações e no final era eu que tinha razão. Aproveito para pedir almoço enquanto levam o indíviduo para fora da sala.

Da parte da tarde tenho uma partida de golfe agendada com um potencial investidor estrangeiro. Embora não muito deslumbrado com a situação, o importante é honrar os compromissos. A partida corre bem até que a conversa de situação termina e começa-se a falar a sério. Pressões internacionais vão levar a que a sua participação financeira no nosso negócio seja significativamente inferior ao esperado, diz-me ele. A sua opinião é francamente diferente depois do seu caddy se encontrar caído no chão, sangue a espirrar da sua garganta pelo sítio onde a bala entrou. Enquanto guardo a arma asseguro-lhe que as tais "pressões estrangeiras" deixaram de ser um problema muito em breve.

Ganhei a partida, tendo até feito um hole-in-one.

Enquanto janto sozinho num dos melhores restaurantes da cidade, o gerente, homem da minha confiança, vem falar comigo. Está acompanhado por duas raparigas que diz estarem interessadas em conhecer-me. Digo para se me juntarem à mesa. O gerente afasta-se com uma pequena vénia. Agradecerei mais tarde a consideração que ele tem por mim com um maço de notas considerável. Olho as raparigas à minha frente, enquanto esboço o mais pequeno dos sorrisos. Risinhos e olhares provocadores são o que obtenho em resposta. A noite vai ser longa.

Ser um líder mundial não é fácil. A não ser para mim.



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