domingo, 25 de maio de 2008

O regresso do herói? Pensem duas vezes...*



Esta semana, após 19 anos de espera, um dos heróis mais carismáticos da minha geração voltou aos cinemas. Devo confessar que fui acompanhando com curiosidade a especulação e as informações que iam sendo libertadas para a net e para os jornais acerca do filme. Algumas deixaram-me a pensar que o resultado final poderia desiludir, outras criaram expectativa. Por norma, não costumo apoiar o vício hollywoodesco de pegar em clássicos (muitos deles com sequelas ou trilogias) e criar novas aventuras para a saga. É a máquina do dinheiro a funcionar e são os estúdios a aproveitar fórmulas que resultaram bem para sugar um pouco mais os fãs. Quase sempre, o resultado é trampa... Mas passemos ao que interessa. A nova aventura do Dr.Jones permite-nos retirar algumas conclusões. Primeiro, Harrison Ford ainda está em forma (e não me refiro à condição física que isso ficou, e bem, para os duplos); segundo, Spielberg e Lucas estão muito em baixo de forma e deveriam contemplar a hipótese de reforma. Não me interpretem mal, Spielberg já tem provas mais que dadas e isto não lhe retira nenhum valor, até porque ele foi responsável pela realização e não pela escrita neste filme, mas ainda assim há pormenores que desiludem. Quanto a Lucas, é um básico que não percebe nada de cinema e que não criou mais que a saga Star Wars e se instalou confortavelmente à sombra da bananeira a colher os frutos de tão gloriosa criação. Mas adiante. O filme mantém-se fiel ao estilo clássico das aventuras de Indy. Está lá tudo, Indy e o seu sentido de humor apurado, ao qual recorre até nas situações de maior aperto; um vilão (vilã, neste caso) bastante característico e típico personagem de BD; cenários fantásticos e muitas cenas exageradas que dão maior enfâse à aventura. Se nenhum de vós gosta disto, se vão para os cinemas reclamar com as cenas abusadas e que desafiam as leis da física, então não se dêem ao trabalho. É preciso fechar um pouco os olhos a esses pormenores quando se vê um filme destes e entrar no espírito. Mas logo aqui vem o primeiro problema! Ninguém reclamou quando vimos um feiticeiro arrancar corações às pessoas com as próprias mãos. Mas nesta nova aventura há uma série de cenas que são imperdoáveis. Quem viu o filme sabe perfeitamente do que estou a falar. Onde é que eles tinham a cabeça? Uma coisa é tolerar um pouco de exagero para que o nosso herói consiga superar os desafios, outra é perder neurónios a uma velocidade alucinante com cenas absurdas, e em que só apetece perguntar se isto é o melhor que todas as mentes criativas que se juntaram para fazer o argumento conseguiram fazer?

Falemos então do argumento, do guião, o cerne de toda esta questão. O filme começa bem, temos uma adaptação do herói à idade real de Ford, e felizmente não optaram por torná-lo ainda vivaz como um moço de 18 anos. O enquadramento não está mau de todo e o enredo desenvolve-se de forma aceitável. Mesmo quando começamos por nos aperceber que estamos na Area 51 e nos são subtilmente desvendadas certas pistas relativamente ao desenrolar da história, que nos fazem torcer um pouco o nariz, aceitamos e continuamos no jogo.
A nível de personagens tudo muito bem. Shia LaBeouf está bem no seu papel e proporciona alguns momentos bem cómicos graças ao seu estilo Travolta. Revemos alguns clássicos da saga, e nada a apontar nesse capítulo.

Ora então a nossa história vai prosseguindo connosco confortavelmente instalados na nossa cadeira de cinema. Suportamos inclusivé o absurdo de um intervalo de sete minutos e tudo está muito bem. Estamos divertidos.

Eis então, o princípio da desgraça.

A segunda metade do filme é como um poço sem fundo, um abismo imenso de desastre criativo e originalidade. Se até aí estávamos dispostos a aceitar as implicações extra-terrestres da coisa, mas apenas numa perspectiva mística, já não conseguimos tolerar o o que se segue. Discos voadores? Alienígenas supremos que voltam à vida após cinco mil anos? Paralelismos de universos?


Reacção típica pós-visionamento da 2ª metade do filme

Temos muita pena. Mas há um limite para tudo. Se até ao final do filme a ideia de um povo que prestava tributo e adoração a criaturas divinas vindas do espaço era aceitável, o problema está quando destroem o conceito de simples fé divinal para a tornar em realidade. O final do filme, ainda que visualmente muito bom, é o pior dos finais possíveis para este filme no que a história diz respeito. Agora percebo porque, de acordo com notícias veiculadas na altura, Sean Connery se recusou a participar (como pai de Indiana Jones, mais uma vez) nesta nova aventura da saga.

Em conclusão, o filme está perfeitamente enquadrado no espírito de filme de acção anos 80 dos primeiros títulos da saga de Indy. As cenas de acção estão cómicas e fiéis ao estilo do Dr.Jones. Tudo muito bom até aí. As personagens não estão mal, ainda que nada de fabuloso. Os efeitos especiais estão toleráveis. O problema reside na 2ª metade do filme e no desenrolar da história. George Lucas e companhia falharam completamente e arruinaram o que poderia ser um belo regresso de um herói mítico para um geração. Isto lembra-me o King Kong de Peter Jackson, em que de tão mau que é e de tão absurdos que são certos pormenores da história, preferimos acreditar que escreveram aquelas baboseiras todas enquanto alcoolizados. E aqui, Spielberg deveria estar bêbedo também. E Lucas estaria sóbrio, porque de facto nada disto surpreende vindo de quem é. Excepto para fãs das aventuras de Indiana Jones, acho Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull um filme fraco, no limiar do razoável. Apreciado reticentemente por 6 em 10 taralhões, sobretudo pelo primeira metade.

Despeço-me com amizade.


*Este post pode conter spoilers!

7 comentários:

Skizo disse...

O FILME DE FICÇÃO CIENTÍFICA DO ANO!

Barrabás disse...

Não sejam assim!

Vamos lá ver uma coisa, há 20 anos atrás a Arca da Aliança, o Santo Graal fizeram todo o sentido? Certo? São elementos históricos/religiosos envoltos em misticismo... Há historiadores, arqueólogos que dedicam ou dedicaram uma vida de trabalho a esses temas! Como já deves ter ouvido falar, ishkur, também os houve e há que se dedicam a tentar provar que de facto a evolução humana, a dada altura, teve como motor uma intervenção extraterrestre. Nestas teorias surjem quase sempre as civilizações sul-americanas (por vezes os egipcios e outras culturas surgem ligadas a estas teses), como tendo sido os contactados...Não me alongando mais, onde é que quero chegar? Sendo um descrente convicto, que diferença faz Herr Jones procurar um objecto resultado de uma qualquer aliança entre a Humanidade e o Todo Poderoso ou andar atrás dum esqueleto extraterrestre para lhe devolver a caveira? São crenças e, por isso mesmo, até acho que a história do filme foi bem conseguida. É um tema mistico e "real" (no sentido, em que efectivamente há quem acredite nisso e pegando nalgumas falhas não explicadas da nossa evolução, consegue sustentar uma teoria) muito ao estilo das restantes aventuras do Dr. Jones (não me recordo muito bem do Temple of Doome)!

Consigo até compreender que te tenha desiludido, mas daí a seres tão cáustico em relação ao argumento... quando bem vistas as coisas (na minha opinião) nem foge muito à ideia por de trás das aventuras do Professor Jones!!

Quanto ao resto do teu comentário ao filme tenho que concordar quase em absoluto... chamava mais um nome ou dois ao Lucas, mas acho que não vale a pena!

Abraço

Anónimo disse...

UAU!!! UM COMENTÁRIO COM MAIS DE CINCO LINHAS VINDO DO CRIMINOSOS JUDEU!!! ADORÁVEL!!! Indiana Jones... pff

Anónimo disse...

Barrabás és uma espécie de George Lucas dos blogs certo? Os teus argumentos são tão ridículos como o argumento do mais recente Indiana Jones!

Barrabás disse...

Maddie, dizes essas coisas bonitas só para me agradares, não é? Engraçado, que os teus argumentos também não vão muito além da ofensa...

Anónimo, arranja lá qualquer coisa para fazer e deixa o pessoal "blogar e comentar sem te ter constantemente a importunar! Experimenta fazer um comentário construtivo da próxima vez, boa?

Anónimo disse...

Pois é! O herói voltou e tal como previa, não deixou de ser um flop.

Xuma disse...

Erm.. é plausivel ele procurar um esqueleto de alien...


Mas não foi isso que se viu no final do filme pois não??

Era a mesma coisa que no filme do Santo Graal aparecer Jesus em pessoa a dizer "isto é meu pah, keke tão a fazer?? Ai.... raistaparta hã..."