domingo, 11 de janeiro de 2009

Barcelona e o elogio da vida


Sem grandes surpresas, o mais recente filme de Woody Allen deixou-me maravilhado. O velho Woody não agrada às massas e os seus espectadores habitualmente dividem-se entre o "odiei" e o "adorei". Mas isso é perfeitamente natural para um génio criativo como o seu, que se estará bem nas tintas para o que os outros pensam.

Vicky Cristina Barcelona é um filme que não se perde em rodeios e vai directo ao assunto. A história é bastante simples, mas traz consigo uma mensagem em background, que é o que devemos reter no final. Duas amigas, Vicky e Cristina, melhores amigas mas muito diferentes na personalidade decidem partir rumo a Barcelona para gozar o Verão. Vicky está a trabalhar na sua tese de mestrado sobre a identidade catalã, ideia que veio da sua paixão por Gaudi. Cristina deixou recentemente mais um namorado e, sem rumo definido, procura um escape.

Ora o seu caminho acaba por se cruzar com o de Juan Antonio, um impulsivo galã, que sem rodeios as convence a viajar consigo até Oviedo para um passeio cheio de romance. E é aqui que a trama se complica. Entre amores e desamores, acontece de tudo um pouco, desde os mais pequenos inconvenientes às mais loucas confusões. Tudo o que se segue são relatos detalhados desse Verão e das aventuras que cada uma das personagens acaba por passar. Ao bom estilo de Woody, a confusão e o absurdo são pratos principais. Aliás, o seu estilo inconfundível está bem patente nos diálogos cáusticos e recheados de humor negro com que somos presenteados em cada cena. Neste capítulo há que destacar as representações tão bem conseguidas, das quais destaco Javier Bardem que está divinal. O papel cai-lhe que nem uma luva.

O filme desenrola-se assim em tom descontraído, e ao longo do tempo vamos recebendo pequenos prémios. Cenas de Barcelona que nos deixam roídos de inveja por não estarmos lá naquele instante a disfrutar da beleza da cidade e das obras de Gaudi e Miró que constantemente fazem de cenário. Outro trunfo espectacular é a presença de um narrador, que nos dá o mote para cada cena e descreve o estado de espírito das personagens.

Todos estes detalhes complementam-se naquilo que é o resultado final. Life is the ultimate work of art. Na minha humilde perspectiva, Woody Allen criou aqui um pequeno elogio à vida e ao maravilhoso que é disfrutar o momento. Um tributo ao carpe diem, se quiserem. Seria impossível passar pelo filme todo e não pensar na minha própria vida e em quantas vezes terei permitido a mim mesmo gozar aquelas emoções, guiadas pelo impulso do momento.
Portanto, Woody Allen criou aqui mais uma pequena obra prima. Não porque é portentoso, não porque ficará na história como um épico do cinema. Precisamente pelo contrário de tudo isso. Porque é simples, e é nas coisas simples que por vezes encontramos a mensagem de que precisamos. E tudo com muito sentido de humor à mistura. Bravo, então!

Recomendado vivamente por 8 em 10 taralhões.

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