sábado, 18 de abril de 2009

Metsä

Era um lugar diferente dos outros. Ali o Sol nunca espreitava por entre as nuvens. O céu estava constantemente carregado em tons escuros, a vegetação era mórbida como se sem vontade de viver. As árvores erguiam-se de ramos esticados até ao alto, como se procurassem alcançar os céus. A relva tinha aspecto de queimada e as flores pendiam infelizes como se contando os segundos até enfim deixarem de existir. Não se via vivalma. A população local, escassa, não se dava a contactos com o mundo e invariavelmente os dias eram passados longe de tudo e todos. O ar era pesado e mais difícil de respirar. Havia dias em que o nevoeiro que se instalava vindo das montanhas durava semanas, ninguém sabia bem porquê. À noite, o silêncio já habitual ganhava toda uma nova dimensão. As ruas desertas tornavam-se assustadoras. Por entre a escuridão das ruas não iluminadas ouviam-se sempre sons vindos sabe-se lá de onde, e sentia-se um frio gélido na cara. O nevoeiro adensava-se sempre durante a noite, não se vendo um palmo à frente dos olhos, daí que nem uma pessoa se dava a largar o conforto da lareira para sair. E invariavelmente, à mesma hora de todas as noites, ouviam-se gemidos. De dor? Gritos que pareciam vir do núcleo da Terra, do seu âmago. Do mais profundo e obscuro que há nos seres. Todos fechavam os olhos e continuavam a dormir, ignorar era o melhor remédio. A coisa não durava muito. Apenas breves minutos. No final ouvia-se um bater de asas, como se um bando de corvos estivesse a sobrevoar a cidade em ritmo desenfreado, e enfim o silêncio. O silêncio voltava. Na manhã seguinte o dia nascia com o cheiro fétido da morte. Foi assim que todas as crianças da cidade foram desaparecendo. Depois as mulheres. Mas não se faziam perguntas. Talvez fosse o ar pesado que anestesiasse as pessoas, como se gradualmente sugando-lhes a energia e a vontade de viver. Desde aquele primeiro dia em que cá cheguei que não voltei a sair de casa durante a noite... Há algo de demasiado negro.... demasiado frio.... demasiado.... terrível....



Sem comentários: