sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Álbum de Recordações #5

Vistas as coisas, Cláudio não gostava do pai.

Vá-se lá saber porquê. Era mesmo daquelas coisas que não fazem sentido, como um pequeno formigueiro que se sente no corpo todo, do qual não sabemos a origem mas que no entanto não podemos negar.

O pai nunca o tratara mal, dentro dos possíveis sempre lhe dera o que queria, mas mesmo assim Cláudio não gostava do pai. Um homem que era comissário da Polícia, condecorado desde que salvara aqueles gémeos de se afogarem no lago. Um autêntico bom samaritano que contribuía para causas justas e nobres, sempre que podia ajudava os mais desfavorecidos e mesmo assim Cláudio não conseguia gostar do pai.

Seria de si próprio o problema?

A culpa não podia ser dele. Tal sensação, como aqueles apitos muitos agudos e perturbadores que apenas ouvimos no limiar da audição, só acontecia com o seu pai. Com a sua mãe a relação era perfeitamente normal, e embora poucas vezes estivesse com o resto da família, com eles também não acontecia.

Até se lembrava bem daquela vez há uns anos, embora fosse ainda pequeno, quando a sua tia
Raquel os visitou com o seu filho Jorge. Tudo correra lindamente nesse dia, dera-se muito bem com o seu primo e a sua tia era um perfeito amor. Pessoas perfeitamente normais. Mas o que mais lhe ficou marcado na memória foi o medo que sentiu do pai nesse dia, embora este tenha passado o dia a fazer piadas enquanto todos riam . Todos menos ele, obviamente. Até acabaram por tirar uma foto de família.

Cláudio nunca mais quis tirar uma foto depois desse dia.

Decididamente, Cláudio não gostava do pai.



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